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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Texto da apresentação de Duarte João Ayres d'Oliveira...



Apresentação do livro de Maria Eugénia Ponte
«ABELHA ZENA, A RAINHA SERENA»


Quando, naquela tarde de Agosto, recebi um telefonema da Maria Eugénia Ponte convidando-me para fazer a apresentação do seu novo livro de contos para crianças «Abelha Zena, a Rainha Serena», fiquei atrapalhado e apresentei-lhe todos os pretextos que naquele momento me vieram à cabeça para não aceitar o convite.

É que nunca antes fizera a apresentação de um livro e, confesso, não estou nada familiarizado com estas lides culturais.
Mas a Eugénia insistiu: que ao menos lesse o seu livro antes de tomar uma decisão definitiva. Acedi
por delicadeza. Minutos depois tinha o texto do livro na minha caixa de e-mail e, para me ver livre do assunto o mais depressa possível, comecei a
lê-lo naquele mesmo dia ao serão. Porém, findo o quarto capítulo, fiquei rendido à obra. Fui até ao computador e respondi ao e-mail da Eugénia,
aceitando fazer a apresentação do livro.
E aqui estou!

O que me levou a mudar de ideias?

Antes de mais o facto de ser uma obra para crianças (embora não exclusivamente, como veremos mais adiante). Sou pai de três meninas e,por isso, sensível a esta questão. Escrever para as crianças, a pensar nelas, nos seus anseios, como resposta às suas procuras, como estímulo à sua imaginação, fazendo da escrita algo que enriquece cada qual, que ajuda a
crescer e a formar personalidades, que ensina, educa e se faz escola de valores, é tarefa que deve merecer todo o nosso apreço, apoio e elogio.
Obrigado Maria Eugénia Ponte porque, apesar de não ser mãe, como refere na dedicatória deste seu novo livro, manifesta este interesse e carinho pelas
crianças. Não tem a experiência de amar à maneira de uma mãe mas, como confessa nessa dedicatória, fez a experiência inolvidável e profundamente marcante de ser amada por uma mãe, à qual, com saudade, dedica agora o seu livro.
Atrevo-me, por isso, a afirmar que quem escreve «Abelha Zena, a Rainha Serena» não é tanto a Maria Eugénia mas é, sobretudo, a “Géninha”, qual criança bem amada que aparece, assim, como autora e, ao mesmo tempo, destinatária dos dez contos que preenchem a obra agora lançada.

Diga-se desde já que «Abelha Zena, a Rainha Serena» não é uma colectânea de contos avulsos para serem lidos por crianças ou às crianças.
Expliquemos a obra no seu enquadramento e na sua estrutura.

Ela surge na sequência de um outro livro de contos da Maria Eugénia Ponte «A Gaivota que tinha medo do mar». Nesse outro livro, cada conto era dedicado a um animal diferente e o último conto, que tinha por heroína uma abelha, de seu nome Zena, deixava escapar que a história de Zena e das abelhas da sua colmeia haveria de continuar.

«Abelha Zena, a Rainha Serena» concretiza essa continuação e fá-lo de um modo tão imaginativo, quanto didáctico e interessante, como veremos,
fazendo deste livro não apenas um livro para crianças mas igualmente para adolescentes, jovens e adultos, ou seja, um livro para todas as idades.

E como é isso conseguido?

O pano de fundo de toda a obra é a vida de uma colmeia, qual realidade comunitária onde, a partir das vivências protagonizadas por umas quantas
abelhas – Zena, a rainha da colmeia, Belita, a obreira distraída, Cindy, tão bela quanto irreverente, Zita, braço direito da rainha, Esperança, a nova rainha –, podemos olhar-nos a nós próprios e ao nosso agir em sociedade, comunidade cada vez mais global onde estamos inseridos.

Cada capítulo do livro estrutura-se em três partes.

A primeira parte, breve e introdutória, não é ainda o conto. É uma espécie de abordagem ligeira ao mundo fascinante das abelhas, sublinhando e descrevendo um determinado aspecto “técnico” – diria assim, à falta de melhor expressão – característico da forma de organização das colmeias: a construção dos alvéolos, a produção da cera e do mel, as técnicas de orientação e de defesa das abelhas, as suas atitudes comportamentais, etc., etc...

Depois, a segunda parte de cada capítulo é o conto propriamente dito. É aí que a capacidade imaginativa da Eugénia se exprime em todo o seu talento, oferecendo-nos dez maravilhosos contos que encantarão crianças e satisfarão adultos. Cada história é independente, podendo ler-se isoladamente das demais, embora a leitura sequencial nos ofereça um certo
encadeamento lógico e nos permita acompanhar a própria progressão que se verifica na vida de uma colmeia.
Cada um dos dez contos concretiza, na narrativa que nos oferece, o tal aspecto “técnico” a que a primeira parte do respectivo capítulo alude. Por exemplo, no capítulo V, a primeira parte descreve como as abelhas em apuros lançam pedidos químicos de socorro e como as demais os detectam e respondem por meio de acções de resgate concertadas. Então, o conto desse mesmo capítulo, narra-nos o episódio em que a abelha Belita, distraída como sempre, se deixou apanhar por uma aranha, e como toda a colmeia se mobilizou para a salvar.

Finalmente, cada capítulo conclui com uma terceira parte. Qual fábula de Esopo ou de La Fontaine, é a lição de ordem comportamental, social e ética que o conto encerra e a narrativa expressa, e que esta terceira parte se encarrega de explicitar.
Aqui já não é de abelhas que se fala. É de todos e
de cada um de nós, homens e mulheres, crianças e jovens, adultos e idosos,que vivemos em sociedade. Estas “caixas” de texto, inseridas no final de
cada capítulo, são verdadeiros exames de consciência que nos interpelam fortemente num mundo que, não raras vezes, vive segundo a máxima do «salve-se quem puder» numa atitude de busca egoísta e individualista de mera auto-satisfação.

A valorização das qualidades dos outros, a tolerância perante os defeitos, a aceitação da diferença, o perdão, a auto-aprendizagem e o crescimento
pessoal feitos a partir dos erros e das falhas, o sentido da responsabilidade, a amizade sincera, a consciência de missão e de pertença a uma comunidade, a preocupação pelo bem comum, a partilha, a entreajuda, a humildade, a fidelidade, a liberdade, são apenas alguns dos inumeráveis valores que – pasme--se – as abelhas e a sua vida em colmeia são capazes
de nos ensinar.

Percebem agora porque é que «Abelha Zena, a Rainha Serena» é um livro para todas as idades? Compreendem como, depois da minha recusa inicial em apresentar este livro, me deixei rapidamente seduzir por ele? Aos mais novos interessarão, principalmente, os contos. Sobretudo aos mais velhos se destinará a conclusão moral de cada um desses contos. E a todos
interessará a parte explicativa acerca da vida das abelhas que antecede os mesmos contos.

Não estamos, portanto, perante um vulgar livro de historietas infantis, simplesmente para entreter ou… para adormecer.
Esta obra vai mais fundo. Escrita por alguém que fez a experiência do amor de sua mãe, ela não nos faz adormecer mas despertar! Despertar para um amor sem
fronteiras, qual chave da verdadeira felicidade. Direi eu, que sou crente: despertar para o amor que vem de Deus, ou melhor, para o amor que é o
próprio Deus. Não é, pois, por acaso que a última palavra deste livro é – e escrita em letras maiúsculas – a palavra AMOR.

A Maria Eugénia Ponte está, portanto, de parabéns. Este seu livro pode ter o condão de unir gerações – os pais e os avós que o hão-de ler às crianças,
as crianças que o irão escutar da boca dos adultos, os jovens que, depois de o lerem, o poderão discutir e partilhar – enaltecendo princípios que são de
ontem, de hoje e de sempre, valores perenes acerca dos quais, por isso mesmo, importa falar e fazer pensar. Como é o caso, por exemplo, do valor da liberdade, sobre o qual a Eugénia escreve na última “caixa” de texto de «Abelha Zena, a Rainha Serena»:

A liberdade é um dos nossos bens mais preciosos.
Vivemos na sociedade do “imediato”, queremos ter tudo o que “imediatamente” nos possa dar prazer.
Mas essa felicidade é uma falsa felicidade, é a felicidade pequena do fácil, do que não nos compromete.
Vivemos na sociedade em que o homem procura a “promoção do ter” muitas vezes associada à desonestidade, a interesses obscuros e a compromissos que limitam a liberdade do trabalhador.
Realmente, a sociedade moderna cria a cada momento solicitações que nos retiram, em parte, a nossa liberdade individual.
Sendo livres, somos escravos do que não temos e gostaríamos de ter.
Vivemos um tempo em que tudo nos é permitido.
Será que tudo nos convém?
Não temos tempo para ser felizes, porque vivemos sujeitos à pressão, ao ritmo e a um estilo de vida para o qual não fomos feitos.
Mas a nossa liberdade também implica respeito e fidelidade, a nós próprios e aos outros.
Vivemos numa sociedade cheia de problemas e contradições, mas depende de cada um de nós lutar pelos nossos direitos e transformar o mundo num
mundo melhor.

Obrigado Eugénia por este livro. Obrigado a todos pela vossa atenção.

Alenquer, 2 de Outubro de 2011
Duarte João Ayres d’Oliveira

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